Olhando de esguelha para as gordas do Alive, poderíamos assumir que um qualquer meeting internacional geriátrico iria ter lugar beira Tejo.
Convenhamos, poucos de nós iriam dar vinte mil reis para ouvir falar das estratégias mais acertadas para contornar a falência psico-motora de uma população cada vez mais envelhecida.
Por isso mesmo é que é preciso olhar para as coisas com olhos de ver.
Se é verdade que na noite “de ontem” houve Stone Roses, Refused, Dead in Vegas, no dia “de amanhã” Mazzy Star e “hoje”, The Cure, Morcheeba ou Tricky, é injusto cairmos na tentação de os proscrever sem contemplação, dada a excelência de muitas destas prestações.
Se é verdade que na noite “de ontem” houve Stone Roses, Refused, Dead in Vegas, no dia “de amanhã” Mazzy Star e “hoje”, The Cure, Morcheeba ou Tricky, é injusto cairmos na tentação de os proscrever sem contemplação, dada a excelência de muitas destas prestações.
É que, no meio deste frenesim de acesso quase instantâneo à (boa) música, andamos demasiadamente balanceados para o futuro esgravatando sofregamente aquilo que ainda ninguém ouviu. De facto, soube muito bem ter dado descanso ao cérebro, deixando de parte, por um fim-de-semana, aquela pasta do laptop que se faz conhecer por “a ouvir!”.
Sem me importar que o leitor mais modernaço me apelide de saudosista, foi bom poder voltar a aquecer o coração entre as melodias que, horas a fio e durante largos anos, me ajudaram a crescer.
Se é verdade que algumas destas bandas já, há muito, expiraram seu prazo de validade, houve aqui a agradável coincidência de a maioria daqueles concertos terem sido francamente bons. É claro que não trouxeram nada de novo mas isso não tem que ser sempre um imperativo.
Sem me importar que o leitor mais modernaço me apelide de saudosista, foi bom poder voltar a aquecer o coração entre as melodias que, horas a fio e durante largos anos, me ajudaram a crescer.
Se é verdade que algumas destas bandas já, há muito, expiraram seu prazo de validade, houve aqui a agradável coincidência de a maioria daqueles concertos terem sido francamente bons. É claro que não trouxeram nada de novo mas isso não tem que ser sempre um imperativo.
Em resumo, este Alive foi feliz porque os velhotes se portaram bem.
Este Alive foi bom porque os restantes miúdos dão conta do recado.
Vamos a factos.
Este Alive foi bom porque os restantes miúdos dão conta do recado.
Vamos a factos.
Sobre este festival há que sublinhar que lá chegaram a estar 60 000 pessoas. Ainda dizem que não há dinheiro…Isso e a confirmação, uma vez mais, que não ir aos festivais é perder a carruagem da jovialidade, deixar para trás as novas tendências, nesta ideia massificada de que tudo ali só pode ser motivo do mais alternativo dos interesses. Sinais dos tempos.
Sobre este segundo dia, não podemos deixar de referir a qualidade do som, em particular, do palco Heineken. Não me recordo de um certame open air deste calibre em que tantas bandas se ouvissem tão bem.
Ainda com bastante luz natural e com muito pouca gente para contar-nos como foi, chegaram-nos os nova-iorquinos Here We go Magic, nesta que foi a sua terceira visita a Portugal.
Os HWGM são um dos últimos (e mais recentes) redutos daquele caldeirão pop(rock) onde muitos, tropeçando na folk, vão beber o psicadelismo e, das sobras, rapam alguma da música mais groovalhoca do continente africano (paixão assumida, aliás, pelo vocalista e principal compositor Luke Temple).
Ficou-nos o agri-doce de quem decidiu prestar mais atenção ao seu mais fraquinho e recente “Different Ship” (pese embora a poderosa produção do valioso Nigel Goldrich), negligenciando os seus anteriores capítulos: o álbum homónimo e “Pigeons”, por esta ordem cronológica.
Os HWGM são um dos últimos (e mais recentes) redutos daquele caldeirão pop(rock) onde muitos, tropeçando na folk, vão beber o psicadelismo e, das sobras, rapam alguma da música mais groovalhoca do continente africano (paixão assumida, aliás, pelo vocalista e principal compositor Luke Temple).
Ficou-nos o agri-doce de quem decidiu prestar mais atenção ao seu mais fraquinho e recente “Different Ship” (pese embora a poderosa produção do valioso Nigel Goldrich), negligenciando os seus anteriores capítulos: o álbum homónimo e “Pigeons”, por esta ordem cronológica.
Antes disso, em Inglês de Portugal, We Trust inauguravam o palco principal, mostrando que não é à toa que dominam o airplay de algumas das rádios (menos) comerciais do país. O público conhece-os e compareceu aos pares, de dedos entrelaçados.
De volta ao palco Heineken, um pouco a despropósito relativamente ao restante alinhamento do dia, exibiram-se os Awolnation. Nestas coisas de festivais costuma haver espaço para todos. Diz que anda aí um anúncio e tal, se é que me percebem…
Povo numeroso, militante na sua adolescência, unido para gritar com a aflitiva facilidade com que se escreve “rock alternativo”, o seu “Megalithic Symphony”.
Povo numeroso, militante na sua adolescência, unido para gritar com a aflitiva facilidade com que se escreve “rock alternativo”, o seu “Megalithic Symphony”.
Mais uma inflexão ao outro lado do recinto para dar nota de parte do alinhamento mais desinteressante e pacífico de todo o festival. Falo da passagem de testemunho entre Noah and the Whale e os Mumford & Sons. Prestações tépidas em dois momentos verdadeiramente festivaleiros em jeito de visita àquela folk orelhuda que vive da luta pela sobrevivência ao esquecimento.
Entretanto, no palco secundário, os The Antlers voltaram a Portugal depois do concerto no Lux no final do ano passado. O último disco não tem a melancolia prodigiosa de Hospice e abusam em palco de alguns falsetes vocais e teclados menos interessantes, mas, ainda assim, são bastante mais entusiasmantes ao vivo do que mostraram nesta passagem pelo Alive. Há momentos com mais distorção, com algum toque de post-rock, em que a performance resulta bem, mas fica-se com a sensação que a banda americana precisa de um espaço mais pequeno e recatado para que a música seja apreciada devidamente. Ouça-se o lindíssimo “Hounds”, estragado pelo incomodativo burburinho de fundo, e está tudo dito.
Um dos grandes momentos da noite foi da responsabilidade de Tricky kid, um velho conhecido de Bristol, muito por culpa das expectativas criadas quando se soube que iria trazer na bagagem a íntegra de uma das suas obras maiores. Falo do inestimável “Maxinquaye”. Não foi isso que aconteceu. Também por ali não vimos uma das mais interessantes vozes da actualidade e sua companheira de palco e de estúdios, Martina Topley-Bird.
Terá sido este um dos concertos mais concorridos e menos consensuais do festival, aliás, como seria expectável. É bom não esquecer que a discografia do, à época, menino que ajudou a construir nos Massive Attack uma das obras primas do final do milénio passado (“Blue Lines”), é tudo menos consensual. No fundo, o espelho dele próprio. Bizarro de silhueta e de personalidade, tantas vezes intenso.
De tronco nú, à imagem do seu sonoro despido e sincopado, numa espécie de rock ligado à máquina, acabou o concerto na horizontal, por entre o mar de braços das primeiras filas. Uma versão da “Ace of Spades” em jeito de homenagem ao tio Lemmy. Fico-me por aqui.
De tronco nú, à imagem do seu sonoro despido e sincopado, numa espécie de rock ligado à máquina, acabou o concerto na horizontal, por entre o mar de braços das primeiras filas. Uma versão da “Ace of Spades” em jeito de homenagem ao tio Lemmy. Fico-me por aqui.
Os dois nomes que encerraram o palco principal têm em comum muito mais do que se possa pensar: o país de origem e o facto de terem vendido muito mais álbuns do que estariam à espera quando começaram a tocar.
Se, no final da década de 90, nos dissessem que Morcheeba e Tricky iriam tocar no mesmo dia, saberíamos imediatamente que não havia ali nenhuma coincidência. Já em 2012, passados tantos anos, percebemos que não é bem assim.
Será injusto olharmos para os Morcheeba apenas à luz do que se passou depois de 1998, porque há dois capítulos que urge sempre recordar: “Who Can We Trust” (1996) e “Big Calm” (1998), dois dos grandes trabalhos do, à altura, por catalogar, trip-hop. Desmintam-me se tiverem coragem.
Feito este lembrete, convém repetir aquilo que muitos se fartaram de ouvir: os londrinos estavam ali repescados, em substituição de Florence and the Machine e, mostrando ter o trabalho de casa bem feito, até interpretaram um dos primeiros temas cantados por Florence “You’ve Got The Love”.
Sky Edwards sempre teve uma voz irrepreensível mas fica-se por aí. Guardamos, apesar de tudo, momentos de relativo prazer em algumas das viagens ao groove de “Big Calm”. Rapidamente nos esquecemos delas quando nos apercebemos que o concerto finda com “Rome Wasn’t Built In a Day” para gáudio, diga-se, de meia linha de Cascais.
Será injusto olharmos para os Morcheeba apenas à luz do que se passou depois de 1998, porque há dois capítulos que urge sempre recordar: “Who Can We Trust” (1996) e “Big Calm” (1998), dois dos grandes trabalhos do, à altura, por catalogar, trip-hop. Desmintam-me se tiverem coragem.
Feito este lembrete, convém repetir aquilo que muitos se fartaram de ouvir: os londrinos estavam ali repescados, em substituição de Florence and the Machine e, mostrando ter o trabalho de casa bem feito, até interpretaram um dos primeiros temas cantados por Florence “You’ve Got The Love”.
Sky Edwards sempre teve uma voz irrepreensível mas fica-se por aí. Guardamos, apesar de tudo, momentos de relativo prazer em algumas das viagens ao groove de “Big Calm”. Rapidamente nos esquecemos delas quando nos apercebemos que o concerto finda com “Rome Wasn’t Built In a Day” para gáudio, diga-se, de meia linha de Cascais.
Os Cure.
O Robert Smith está gordo há demasiado tempo. Para além disso, intriga o mais comum dos mortais, quando se pensa na vitalidade capilar de alguém que, anos a fio, foi esgotando stock´s de laca por onde quer que passasse.
É um dos grandes casos musicais a quem deviam ter aconselhado assinar contrato a termo certo.
1976-1992 e sairiam em grande, eventualmente mais atléticos, motivados que estariam pelas suas maratonas individuais.
Assim não quiseram e, estafados, vão dando concertos de três horas. Tudo somado, em Algés, 36 canções e 3encores.
É um dos grandes casos musicais a quem deviam ter aconselhado assinar contrato a termo certo.
1976-1992 e sairiam em grande, eventualmente mais atléticos, motivados que estariam pelas suas maratonas individuais.
Assim não quiseram e, estafados, vão dando concertos de três horas. Tudo somado, em Algés, 36 canções e 3encores.
São, por outro lado, enormes. Por grande parte sua carreira e pela quantidade de fãs que ainda (se) emocionam. Eu não escapo à regra. Quando a cabeça não tem juízo, o coração é que paga.
Ao vivo, são sempre bem melhores do que aquilo que (não) fizeram em estúdio depois de 1992.
Primeiro, porque nos arrebatam com temas como “Pictures of You”, “Play for Today”, “A Forest”, “Primary”, ou “10:15 Saturday Night”.
Segundo, porque têm Simon Gallup, com tudo o que isso implica. É do baixo que continua a vir muito do poder das suas prestações, continuando a ser ele um dos senhores que lidera a lista dos intocáveis. Ah, e já agora, Robert Smith nunca soube cantar mal.
Primeiro, porque nos arrebatam com temas como “Pictures of You”, “Play for Today”, “A Forest”, “Primary”, ou “10:15 Saturday Night”.
Segundo, porque têm Simon Gallup, com tudo o que isso implica. É do baixo que continua a vir muito do poder das suas prestações, continuando a ser ele um dos senhores que lidera a lista dos intocáveis. Ah, e já agora, Robert Smith nunca soube cantar mal.
De tudo o resto que ali não interessou não me apetece escrever. Até porque, das quatro vezes que os procurei ao vivo, fui sempre para casa a perguntar porque me tenho esquecido tantas vezes deles.
A noite acabou quando já era cedo, com o arraial James Murphy.
E todos sabemos que, ao pé dele, é preciso ter sempre mais forças.
E todos sabemos que, ao pé dele, é preciso ter sempre mais forças.
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